O público frequentador de cinema em nosso país – salvo os “cinéfilos”, habituados a correrem do circuito comercial e a lançarem seu olhar diferenciado, quase religioso, à chamada Sétima Arte – parece ainda ignorar a existência dos curtas-metragens como categoria cinematográfica. É como se para esta parcela de espectadores as produções com no máximo 30 minutos de duração não fossem capazes de abarcar toda a “magia” evocada nos longas-metragens.
Esse olhar limitado (por uma série de questões que não cabe neste post abraçar) sobre as possibilidades do cinema tem nova oportunidade de ser rompida. É que começa hoje (dia 24) a 23ª edição do Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo. Trocando em miúdos – e perdoem pelo trocadilho – é praticamente uma Mostra Internacional de Cinema, dedicada as produções de menor tempo, mas não de menor qualidade.
Nesta edição do Festival – em exibição em seis endereços da cidade e com sessões gratuitas! – o Kinoforum, responsável pelo evento, preparou um cardápio com mais de 350 filmes do mundo todo, entre trabalhos ficcionais, documentários e animações. O evento vai até 31/8.
Organizado em mostras paralelas e/ou “programas”, como a Mostra Internacional, Mostra Latino-Americana e Mostra Brasil, entre várias outras, essa edição do Festival inaugura algumas novidades interessantes: a sessão “Por uns Minutos a Mais”, que exibe filmes cujo tempo ultrapassa o padrão “curta.metragem” e também uma Cine-Bicicletada, (amanhã, 25/8, com saída agendada às 20hs da Praça do Ciclista na av.Paulista, alt. do nº 2.163), que levará ciclistas-cinéfilos para ver alguns dos destaques da mostra no MIS, seguido de uma festa na Cinemateca Brasileira, são apenas algumas dessas novas atrações.
Haverá ainda projeções especiais, como a Retour de Flamme, sob curadoria do cineasta francês Serge Bromberg, composta por obras raras de seu acervo. Na sessão, dia 28/8, na Cinemateca, o próprio Bromberg executará trilha sonora ao vivo!
Este Le Champo se esmerou em fazer uma seleçãozinha básica do que promete ser imperdível no Festival. Voici des conseils, cinephiles!
Integrante do programa Mostra Internacional 6, a obra “O Silêncio”, de L. Rezan Yesilbas, premiado no Festival de Cannes desse ano, conta a história da mulher prestes a visitar o marido detido numa prisão turca onde o curdo é idioma proibido.
Já a Mostra Internacional 9 exibirá, entre outros, “Regra de Três”, filme dirigido pelo francês Louis Garrel (que também dirigiu o excelente média “Aprendiz de Alfaiate”, exibido na 34ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo). Atuando no próprio filme, Garrel conta a história de três jovens que, ao dividirem uma tarde primaveril de Paris, deparam-se com sonhos e decepções ao questionarem: “do que adianta, se eu sou sozinho?”. Premiado em diversos festivais, como “Melhor Curta” do Festival du Film de Cabourg, e na 26ª ediçao do Prix Jean Vigo, além de sucesso em toda Europa, a obra é realmente imperdível, tanto em seus componentes estéticos (e não me refiro à já famosa beleza de seu realizador!) como pelo roteiro bem engendrado. Para cinéfilos.
Veja aqui o trailer de “A Regra de Três”, de Louis Garrel
A Mostra Infantil 1 exibirá “Goo-Goo Babies”, animação de Alexey Alekseev, e mostra o que os bebês aprontam numa maternidade longe dos olhos dos pais. Fofo, no mínimo!
Imperdível também é a Semana da Crítica, uma homenagem ao evento homônimo paralelo ao Festival de Cannes e que exibirá, entre outros, o nacional “O Duplo”, de Juliana Rojas, e conta o excêntrico dia de trabalho de uma professora, que é interrompido quando seus alunos vêem a versão má dela na janela. Vale lembrar que o filme recebeu Menção Honrosa em Cannes, este ano. Da mesma diretora, “Trabalhar Cansa” tem exibição programada na Sala Petrobras da Cinemateca, no domingo (26), às 18h.
Falando em Cinema Nacional, muitos são os destaques da Mostra Brasil. Entre eles está (na mostra Brasil 3) “Vestido de Laerte”, dirigido pelos cineastas Claudia Priscilla e Pedro Marques e mostra o cartunista percorrendo as ruas paulistanas em busca de um certificado; Já Guto Parente leva para o Festival seu “Dizem que os Cães Vêem Coisas”. Nome consagrado no cinema nacional e integrante do “coletivo” Irmãos Pretti & Primos Parente (dos longas “Viagem para Ythaca” e “Os Monstros”), neste, vemos um presságio acerca de um gordo que se atira na piscina com um copo de uísque na mão.
Veja aqui o trailer de “Dizem que os Cães Veem as Coisas”, de Guto Parente, disponibilizado pelo site Dzaí
Para finalizar com chave de ouro, o Programa Cachaça Cinema Clube exibirá o fino do cinema produzido e/ou dirigido só por mulheres, cuja proposta é debater “as delícias e agruras” de “carregar o cromossomo x”, como define a organização do Festival. Três obras para anotar no caderninho: o diálogo entre Maria Gladys e Norma Bengell frente às câmeras, ao som de “Índia”, de Gal Costa é o cerne de “Maria Gladys: uma atriz brasileira”, de Norma Bengell…
… um dos primeiros trabalhos da representante feminina do Cinema Novo, Helena Solberg e seu “Meio-Dia”, de 1969 e a obra prima da cineasta francesa Agnès Varda, discutindo já em 1975, “como as mulheres respondem aos papéis a elas reservados”. Lição de casa para amantes de cinema e para qualquer um que busca raízes para compreensão do que foi o feminismo nos anos 1970 e no que ele veio a se transformar, para além das fronteiras da Europa.
Quem se empolgou pela aventura em 30 minutos (ou um pouco mais!), aí vai o serviço:
23º Festival Internacional de Curtas.Metragens de São Paulo
Quando: de 24 a 31 de agosto de 2012
Onde: Cinemateca Brasileira, Cine Olido, CineSESC, Cinusp, Espaço Unibanco Augusta e MIS
Quanto, produção??? De graça!!!
Para saber os filmes em exibição, programação, horários e endereços das salas, acesse o site do Kinoforum
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À Bientôt!
Como é que é?!